Seu eu ainda tinha alguma dúvida, alguma crise de consciência, ontem à noite me assumi: sou mesmo uma legítima garota de segunda. Preparem-se, porque a revelação é forte: eu fui ao show do Elymar Santos. No Bar Brahma. Explico: ele tinha gravado uma música de uma superamiga minha, a
Isolda, compositora das grandes, autora de vários sucessos do Rei, como "Outra Vez". O cantor faria uma homenagem a Isolda, pelo sucesso da canção "Procura-se" (
Procura-se um grande amor, que ainda tenha tempo para ser feliz...), em seu mais recente CD. Eu nunca tinha ouvido essa música. Tampouco sabia muito do Elymar, além de que ele usava uns modelitos ciganos, tinha um rabo de cavalo, e cantava umas músicas à la Wando. Mas fui, para encontrar e prestigiar a amiga.
Bom, convidei outra amiga que tem um pé no lado B da vida, a Auci, consultora deste blog, aliás (ela é a ruiva comigo na foto, ali em cima). Rumamos as duas para o centrão. Eu não sabia: era aniversário do Elymar, gente! O Bar Brahma estava bombando. Muitas senhoras louras e homens de terno. Muitas mesas de mulheres munidas de máquinas digitais e letras do Elymar na ponta da língua. A biografia do cantor impressiona: quando era um simples
crooner, ele vendeu tudo o que tinha, alugou o Canecão e fez um show. "Ele apostou tudo nele mesmo", me contou Rita, uma das amigas de Isolda. Pois ele conseguiu lotar o Canecão. Foi a partir desse show que seu nome ficou conhecido e a carreira do cara deslanchou.
Depois de alguns choppes e iscas de picanha puxada no molho madeira (ótimo petisco, por sinal), eu já estava curiosa para conhecer essa lenda, ao vivo. E lá vem Elymar Santos, sob o foco de um holofote. Um pouco diferente do "Elymar que eu conhecia": de terno preto, brilhante, com um tecido tigrado. Delírio na platéia. A primeira música era um hit, que dizia algo como "Vocês também são estrelas". Depois ele cantou umas mais cults, como "O Mundo é um Moinho", do Cartola, aquela do palhaço, do Antonio Marcos, "La Barca" e outros boleros. Não se pode negar: o cara tem uma puta voz, e domina o palco. Mas a coisa pegou mesmo nas músicas, digamos, mais
calientes. Num momento único, ele deu uma viradinha, ficou de costas, abriu o paletó e voltou com a camisa estampada aberta e o peito aparecendo. Delírio na platéia 2! As letras também ficaram mais ousadas: "O amor que a gente faz é diferente, ninguém me teve direito, ninguém foi tão perfeita...". Ele cantou ainda "Amor sem censura", "Paixão voraz" (tocando castanholas!) ... e eu e Auci, já que ali estávamos, nos divertimos de verdade. A noite acabou em clima de Carnaval.
Pena que a homenagem a Isolda não rolou, porque no meio do show ela precisou ir embora (e o cantor foi avisado), mas a música "Procura-se" está aí, no vídeo abaixo, na abertura de um dos shows do Canecão. No fim, o que fica é o tema que motiva esse blog: tudo o que é autêntico tem seu valor. Elymar Santos é brega --no bom sentido. Se é que vocês me entendem... Ele não canta aquelas melodias e letras bobocas dos pseudo-sertanejos, nem as vulgaridades dos axés da vida. Ele é o brega bom. O brega legítimo, portanto,
kitsch. Brega de primeira. Ou eu nem teria ido. E não é que a vida dele, ano que vem, vai virar filme?
ps: As noites do
Brahma, aliás, tem valido como um MBA no meu currículo de garota de segunda. Recomendo a programação, principalmente o Cauby Peixoto, às segundas, para quem gosta do gênero!