quinta-feira, 7 de maio de 2009

O cortejo



Fazia anos que eu não via um caixão. Sabendo que ali dentro tem gente. Pois sábado passado, em Paraty, passou um cortejo fúnebre pelo Centro Histórico. Tarde de sol. Eu estava numa mesinha de bar, tomando uma caipirinha, de repente olho e vejo, na esquina, um caixão, carregado pelas alças por quatro homens, seguidos por mulheres com flores nas mãos e véus na cabeça, em um monte de gente atrás. Na cidade grande a gente não vê esses rituais, que, de alguma forma nos fazem lembrar dos ciclos da vida. Lembro de uma reportagem que fiz uma vez sobre o luto. Uma psicóloga especialista no tema me dizia que, hoje, as pessoas tem mais dificuldade em superar o luto, porque a morte ficou distante, em velórios tercerizados e produzidos. Outro dia li sobre uma empresa que tem um buffet para velórios vip, com comes, bebes, e lembrancinhas! Não se vela mais o ente querido na sala de estar. Nem na igreja. Segundo a psicóloga, essa proximidade, antigamente, ajudava a elaborar a perda. Uma coisa é "beber" à memória de quem se foi, lembrando dos bons momentos em vida. Outra é criar uma despedida fria e fake. No México, o Dia dos Mortos é uma festa colorida, com muita tequila, flores e catrinas sorridentes (caveiras), até em forma de docinhos. Bebe-se em memória dos amados, lembrando que a morte pode estar na esquina. Como o cortejo que passou, e me pareceu tão humano...

12 comentários:

Roberta de Souza disse...

Olá Rosane.
Comecei a acompanhar o blog ontem, estou achando super interessante. Parabéns!!
Realmente, tudo tem se transformado, inclusive o ritual de passagem.
Bjkas

Raquel Diniz disse...

Pois eh.. tem gente que ainda planeja o seu próprio velórioo.. ¬¬

ALOBONDER disse...

Quando o jornalista Tim Lopes foi assassinado com uma espada NINJA pela Elias Maluco tive um discussão medonha com minha mãe-Anita,xará da sua filha- pois questionei-a se ela imaginava qual seria a referencia para os atuais requintes de crueldade dos nossos criminosos modernos.
Depois de décadas de faroeste como um entretenimento banal acha-se aberrador o índice de mortalidade do aparato da seg pública e da população jovem excluida.
Ela estrebuchou jurando que era tudo culpa das drogas e do tráfico?!
Antes do pseudo advento o matuto matava o desafeto a facao e foiçada e ainda comparecia ao velório para dar os pêsames dizendo que foi por motivo derradeiro.

Cruela Veneno da Silva disse...

bem, infelizmente o último caixão que eu vi, levou minha metade...

concordo com a psicologa... quase 2 anos depois eu não superei a morte do meu pai pq não velei, não como se deve... não como fazíamos no interior.

Mary_Flor disse...

Pois é... acho que certas tradições estão se perdendo no meio do caminho em meio à "modernidade"...

Beijo...
Bom final de semana;)

sonia correa disse...

SOMENTE quando perdemos um ente querido da familia é que podemos dizer o que achar de tal coisa ou coisa e tal. É muito complicado, é uma mistura que queremos que acabe logo o tal velório e no mesmo momento que fique ali por muito tempo, pois sabemos que daqui a instantes nunca mais veremos aquela pessoa. Para quem já perdeu uma pessoa muito próxima é que pode dizer que a DOR é INTERMINAVEL, é DOLOROSA, ela machuca o coração ela queima a alma. Acho velório muito triste e ainda aqueles que tem cortejo com mulheres chorando bem alto um horror.(acho que nem se usa mais isto).
A gente quando vai a um velório de pessoas amigas, as vezes nem tão proximas e passa o velório inteiro fofocando da vida dos outros( como já aconteceu comigo e eu acho que com vcs. tbm)NEM consegue imaginar a dor, mas dorrrrrr das pessoas próximas ao defunto.
ESPERO QUE TODOS VCS. FIQUEM BEM VIVINHOS POR AI, COM MUITA SAÚDE E DEUS NO CORAÇÃO.
Vida para todos nós.......

Ana Rosa disse...

Por isso mortes que foram decorrente a longo tempo de sofrimentos são melhores, são veladas antes. bjs

Valéria Martins disse...

Uma vez em Cascavel, no Ceará, passamos de biquini perto de um cortejo desses e os homens quase deixaram o caixão cair para olhar para trás... Hahaha, imagem inesquecível.
Beijos

.:: lullaby ::. disse...

bem, infelizmente o último caixão que eu vi, levou minha metade...
[2]



eeeei
adooorei seu blooog
vou sempre passar por aqui ;)

;*********

Rosane Queiroz disse...

Ei, Beta e Lullaby

bem vindas ao Garotas de Segunda. Apareçam sempre!

Tenho a sorte de, até hoje, não ter perdido alguém muito amado e querido, muito próximo.

Se quando a pessoa nem é tão próxima, dá dói, não consigo imaginar ainda esse tipo de perda.

Mas sem duvida os rituais nos ajudam em tudo na vida, acho que precisamos deles para elaborar vida, morte, separações, uniões, enfim...

Beijos, Cruela, que com o tempo fique a saudade boa.

Beijos a todos

e vou pensar num próximo post mais alegrinho

Rosane

Cruela Veneno da Silva disse...

Rosane minha cara... desconheço ainda a saudade boa.

é engraçado como a falta vai mudando... antes eu tinha saudade do pai... agora tenho do amigo.

Anônimo disse...

É ritual de passagem ou rito de passagem?