quarta-feira, 21 de maio de 2008

Palhaçada sem nenhuma graça (parte 2)


Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo aponta que 87% dos brasileiros admite que há discriminação racial no País, no entanto apenas 4% da população se considera racista. A questão é: como pode haver ainda, em pleno século XXI, tanto racismo no Brasil, se quase ninguém se considera racista? Como? Para existir, um precisa do outro, é óbvio. Mas o discurso do “politicamente correto” parece tentar encobrir esse grande absurdo (tão arraigado e incrustado quanto atrasado e hostil) que é o preconceito racial AINDA PRESENTE NA CULTURA DA SOCIEDADE BRASILEIRA – em outras palavras, em todos nós. Por que falo tudo isso aqui, agora? Simplesmente porque a minha amiga do post aí embaixo é negra. Eu, teoricamente “branquinha”, não passei pelo constrangimento de ter que abrir a bolsa e provar que não havia furtado nada. Eu não – e olhe que nem o comprovante fiscal tinha, pois pedi pra própria moça do caixa jogar o papel fora (tenho esse péssimo hábito). Mas ela, minha amiga negra, teve que mostrar seu cupom e suas coisas. Provar sua dignidade depois de ser injustamente acusada e veladamente humilhada. Talvez por isso tenha sido tão firme e decidida em levar o caso adiante, procurando o departamento da Polícia Civil que cuida desse tipo de constrangimento, sem medo da burocracia e da demora que ela sabia que enfrentaria – ou melhor, enfrentaríamos, já que estávamos juntas, nas compras e na indignação. Resultado: tomamos um amargo chá de cadeira de quatro, QUATRO horas para prestar queixa. Por pouco não deixamos para “amanhã”, ou quem sabe nunca, mas fomos até o fim, unidas. Saímos exaustas, e logo cada uma seguiu para sua casa: eu, dolorida por tudo o que presenciei; ela, dolorida por tudo o que sentiu – e certamente ainda sente.

5 comentários:

Valéria Martins disse...

Pois é, Paloma. Uma vez eu vi uma enquete na TV onde as pessoas eram perguntadas sobre: "como vc é racista"? Uma mulher deu uma resposta bem original e engraçada: "nas piadas". A maioria saía pela tangente sem responder. Mas alguns respondiam na lata. Eu, por exemplo, já fiquei com vários homens negros, excelentes amantes. Mas será que me apaixonaria por um negro, casar, ter filhos? Não sei... Mas uma as minhas melhores amigas, Adriana, que hoje mora na Espanha (casou com um cirurgião plástico e se mandou) é negra, linda, um corpaço, os seios mais bonitos que já vi na vida. Paradoxos e contradições de ser brasileiro...

Rosane Queiroz disse...

hum, olha valéria aí se revelando!

o que eu sinto é que a gente nem sabe como começa o preconceito

a anita, minha filha de 4 anos, tende a pintar a pele das bonecas que desenha de rosinha, e poucas de "marrom", como ela diz

pelo menos acha as duas cores bonitas, o que já é um passo.

bjos, ro

Miglim disse...

A coisa só ta piorando!Tomara que sua amiga corra atrás dos direitos dela, isso é um absurdo!
Leiam o post PESSOAS no meu blog, já passei por situação semelhante.

Gislaine Marques disse...

Tbm fiquei com uma dorzinha (no coração), depois de ler o texto. Eu, racionalmente, não sou racista - ou procuro não ser. Mas, infelizmente, tem horas que sinto que uma parte de mim é um pouco. É um sentimento estranho, como se estivesse no meu inconsciente. Fico triste, não acho legal.

Carolina disse...

A falta de comentários aqui nesta sua postagem explica muita coisa (?).Tem silêncios que falam e pesam por si.
Bjos
Carol